(a propósito dos muitos e variados posicionamentos que vou testemunhando, não na pobre discussão mediática internacional sobre o "médio oriente", mas junto de gente concreta e aqui)
Não gosto, por princípio, de discursos e retóricas nacionalistas. Mas compreendo-os - e às emoções que os corporizam - como estratégias de alteridade ou de fuga à subalternidade em certos contextos e conjunturas (um nacionalismo fascista não será o mesmo que um nacionalismo de movimento de libertação. Acho). Se fizesse disto uma questão de princípio, absoluto, a única coisa coerente a dizer seria que recuso a retórica nacionalista isaraelense e igualmente a palestiniana (ou: aceito ambas). Isto levaria a uma neutralidade demissionária, que é o que acontece quando se quer ser formalmente coerente. Como antropólogo, tento perceber, nos seus próprios termos, o afeto e a energia e o sentido que as pessoas, em grupo, investem nestas identificações (e sabendo que o fazem sempre em posições de poder(es) relativo(s)). Neste plano, ambos os nacionalismo são válidos. Como "resolver" isto? Recusando uma aproximação baseada apenas na lógica e na coerência, e pensando ética e politicamente - reformulando a questão do nacionalismo noutra, por exemplo justiça ou direitos humanos. Assim, a situação em que vive a maioria dos palestinianos deve ser vista como iníqua e insustentável. É ela o elo mais fraco, que precisa com mais urgência de ser resolvido. A sua solução passa, para a maioria das pessoas, pela satisfação da sua aspiração identitária nacional - o fim das políticas de ocupação, discriminação e securitárias não seria suficiente e não se daria sem a resolução da questão nacional. Mas "apenas" com uma condição, sem a qual todo o edifício ético da coisa se desmoronaria: que a sustentabilidade da identidade nacional israelense seja assegurada. Os que gostariam de fazer tudo de novo, que sonham com tábuas rasas, que gostariam que isto ou aquilo não tivesse acontecido no passado, não só demonstram irracionalidade, como desprezo pelas "condições realmente existentes" - pessoas concretas vivendo vidas (e com entes queridos mortos, dos dois lados), e não abstrações. O objetivo da satisfação das aspirações nacionais palestinianas e a garantia do adquirido nacional israelense é condição fundamental para se poder pensar, então, para lá do nacionalismo: como já se faz em Israel (onde se encontra desde sionistas de direita até judeus israelenses antisionistas) e como se faz na Palestina (basta pensar no fosso ideológico e de programa político entre o Hamas em Gaza e a Autoridade Palestiniana em Ramallah).
(Pensar numa situação concreta como esta é também um exercício que desafia a inteligência: não se pode ver isto com lentes criada para ler outros textos, nem com analogias que transportam para aqui significados de outros tempos e sítios. Mas isso é outra conversa, para outra altura, sobre o uso abusivo - não só intelectualmente, mas com consequências práticas nos afetos investidos - da analogia do apartheid ou do colonialismo, ou de ideias feitas de fundo islamofóbico, orientalista, ou antisemita).
Não gosto, por princípio, de discursos e retóricas nacionalistas. Mas compreendo-os - e às emoções que os corporizam - como estratégias de alteridade ou de fuga à subalternidade em certos contextos e conjunturas (um nacionalismo fascista não será o mesmo que um nacionalismo de movimento de libertação. Acho). Se fizesse disto uma questão de princípio, absoluto, a única coisa coerente a dizer seria que recuso a retórica nacionalista isaraelense e igualmente a palestiniana (ou: aceito ambas). Isto levaria a uma neutralidade demissionária, que é o que acontece quando se quer ser formalmente coerente. Como antropólogo, tento perceber, nos seus próprios termos, o afeto e a energia e o sentido que as pessoas, em grupo, investem nestas identificações (e sabendo que o fazem sempre em posições de poder(es) relativo(s)). Neste plano, ambos os nacionalismo são válidos. Como "resolver" isto? Recusando uma aproximação baseada apenas na lógica e na coerência, e pensando ética e politicamente - reformulando a questão do nacionalismo noutra, por exemplo justiça ou direitos humanos. Assim, a situação em que vive a maioria dos palestinianos deve ser vista como iníqua e insustentável. É ela o elo mais fraco, que precisa com mais urgência de ser resolvido. A sua solução passa, para a maioria das pessoas, pela satisfação da sua aspiração identitária nacional - o fim das políticas de ocupação, discriminação e securitárias não seria suficiente e não se daria sem a resolução da questão nacional. Mas "apenas" com uma condição, sem a qual todo o edifício ético da coisa se desmoronaria: que a sustentabilidade da identidade nacional israelense seja assegurada. Os que gostariam de fazer tudo de novo, que sonham com tábuas rasas, que gostariam que isto ou aquilo não tivesse acontecido no passado, não só demonstram irracionalidade, como desprezo pelas "condições realmente existentes" - pessoas concretas vivendo vidas (e com entes queridos mortos, dos dois lados), e não abstrações. O objetivo da satisfação das aspirações nacionais palestinianas e a garantia do adquirido nacional israelense é condição fundamental para se poder pensar, então, para lá do nacionalismo: como já se faz em Israel (onde se encontra desde sionistas de direita até judeus israelenses antisionistas) e como se faz na Palestina (basta pensar no fosso ideológico e de programa político entre o Hamas em Gaza e a Autoridade Palestiniana em Ramallah).
(Pensar numa situação concreta como esta é também um exercício que desafia a inteligência: não se pode ver isto com lentes criada para ler outros textos, nem com analogias que transportam para aqui significados de outros tempos e sítios. Mas isso é outra conversa, para outra altura, sobre o uso abusivo - não só intelectualmente, mas com consequências práticas nos afetos investidos - da analogia do apartheid ou do colonialismo, ou de ideias feitas de fundo islamofóbico, orientalista, ou antisemita).
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