Nota solta 1: Ontem uma aluna deu-me boleia, e a mais duas colegas, a seguir à aula. Falávamos sobre os diferentes sistemas universitários e ela comentou: "Pois é, vocês no fim do liceu especulam sobre qual o curso em que vão entrar e nós sobre qual a unidade do exército".
Nota solta 2: Esta minha aluna é de Haifa. Segundo ela, uma cidade com mais população árabe e com orgulho num certo nível de integração, à semelhança do caráter multicultural das cidades portuárias. As representações locais apontam no sentido de um trio: a Jerusalém disputada e religiosa, a Tel Aviv secular e hedonista, a Haifa misturada e mediterrânica.
Nota solta 3: Conversa-se no carro sobre questões raciais que haviam sido abordadas na aula, a propósito do Brasil e dos EUA. Uma aluna brasileira-israelense assume como no Brasil não tinha zonas de contacto que permitissem desenvolver amizades próximas com pessoas negras. O mesmo para outra aluna israelense que viveu nos EUA. E a condutora refere como não conhece árabes com quem tenha relações de proximidade.
Nota solta 4: A minha aluna brasileira, M, cresceu numa família ateia e sem ligações à comunidade judaica. Mas resolveu fazer aliyah, como parte de um processo de mudança de vida, de riqueza identitária, e de aventura. O processo é, sem si mesmo, rico em termos de análise antropológica. Contacta-se a Agência Judaica para iniciar o processo, cujo primeiro passo é a comprovação da ascendência judaica até à geração de um avô/avó. A prova é religiosa, feita por um rabino que analisa documentos como certificados de casamento ou de óbito, entre outros. Aceite a candidatura, o Estado paga a viagem, concede a cidadania à chegada e coloca as pessoas em Centros de Absorção. São de vários tipos, para jovens, solteiros, famílias, e há-os específicos para os judeus etíopes. Vive-se nos centros, com um subsídio pequeno, podendo logo procurar-se trabalho. Aprende-se hebraico, num processo que, no caso dela, foi de 5 meses. A narrativa das diferentes origens nacionais e motivações do colegas de Centro é fascinante - e seduz para uma investigação antropológica sobre projetos e reconfigurações identitárias, num interface entre os indivíduos, as suas origens, e o papel do estado na formação de identidade. Há, aliás, um livro sobre um caso específico de um centro para etíopes (Immigrants and Bureaucrats, de Esther Herzog)
[o blog da M, em português: Ani rotza bira]
[o blog da M, em português: Ani rotza bira]
Nota solta 5: Quintas-feiras: estudantes e mais estudantes (e não só) nas ruas e bares. Sexta de manhã as lojas abrem e toda a gente se abastece. A partir do meio da tarde tudo fecha e o Shabat começa ao pôr-so-sol, prolongando-se até ao pôr-do-sol de sábado. Sábado á noite, mais diversão. Domingo, dia de trabalho normal, não começa, por causa dos efeitos da noite anterior, antes da hora de almoço (aulas, por exemplo, só na tarde de domingo). Este "desvio" no tempo é das coisas mais curiosas em termos de adaptação cultural.
Nota solta 6: Jantar fora, visitar um bar alternativo, acabando no bar gay de Jerusalém, o Mikvah (uma ironia: a palavra quer dizer banho ritual de purificação e é uma referência religiosa...). M tem uma postura secular e de esquerda, mas uma sensibilidade antropológica. A princípio detestava o Shabat e o peso religioso que isso significava sobre a cidade, que fica com as ruas vazias (embora com a vantagem de, nos poucos sítios abertos, saber-se que toda a gente é secular...), mas aprendeu a gostar do silêncio, da contemplação, da sociabilidade diferente, que cultiva com jantares caseiros com amigos, mesmo sem a tonalidade confessional.
Nota solta 7:
Gayness: transnational culture par excellence...
"Gayness: transnational culture par excellence..." Nunca tinha refletido sobre isto. Mas fiquei curioso. É mesmo assim? Existe mesmo?
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