Acordei com planos de ir a Jerusalém Leste. A ideia? Começar a procurar lugares, ainda do lado de cá do West Bank / dos Territórios, onde poder contactar mais de perto com a comunidade árabe. Estava mesmo para sair quando a C me liga convidando para um café. Mora no mesmo bairro, caminhada rápida. Em sua casa, além dos filhos, está uma amiga, a Muna, que estuda na nossa universidade. Divertimo-nos a aprender mutuamente árabe e espanhol (e um pouco de português, e de francês...) e conversámos muito sobre o ativismo de ambas, que é de fundo não-sionista e não-divisório, algo raro por aqui. M, apesar de ser cidadã de Israel, nem quer pensar na eventual necessidade de ter de escolher entre estados - "não poderia deixar de ver os meus amigos judeus". Nenhum estado, seria o melhor, pensam ambas - mas essa é assumidamente uma posição utópica, de quem pensa radicalmente. Mas um estado binacional seria, para as minhas novas amigas, a melhor solução. Mas conversar sobre o Conflito é uma coisa. Outra, bem mais importante, é a sensação boa de encontrar gente. E esta entrada inesperada num universo que também inclui os árabes. Serendipity, pois.
Vamos para a parte árabe e predominantemente muçulmana da Cidade Velha, parte da definição "clássica" de Jerusalém Leste. Numa confeitaria comemos uma sobremesa "assassina" à base de queijo de cabra e muuuuito açúcar. Café turco. Ou árabe, como por aqui se diz.
The women and their true colors :-)
Orientalismos à parte - ou não - a Cidade Velha é de facto um labirinto de cores e cheiros. Não me ocorrem mais estereótipos, mas apetece enunciá-los todos. Uma coisa é certa: apetece entrar e não sair para as ruas e céus abertos.
Numa esquina, um vislumbre do dia e outra arquitetura. Indo por ali a Cidade Velha desdobra-se em bairro judeu e em bairro cristão - este um amontoado de igrejas, confissões que vão da igreja grega à arménia, passando por mosteiros etíopes, e mil e uma seitas e denominações. É como se, vista de cima, a cidade velha fosse a única povoação habitável de um planeta árido, onde toda a gente, de todas as etnias e credos se juntasse amontoadamente, com fronteiras subtis e regras de convívio implícitas.
Terminamos o dia em casa de amigas e amigos - uma "comuna feminista", como me é explicado (sem imagens). Pessoas que vão organizar em breve uma conferência e festa queer. Uma delas é norueguesa e antropóloga. Conhecemos pessoas comuns - professores dela, colegas meus. Outra menciona um poema-vídeo de alguém e descobrimos que se trata do mesmo que já linkei, a propósito do Dia de Jerusalém, e que ela e o autor se conhecem. Serendipity. Small world. Gostei muito da atmosfera que reúne pessoas de origens diversas, judeus e árabes, em torno de visões do mundo que, goste-se mais ou menos delas, partem de um "sair da caixa" e das armadilhas do pensamento fundamental(ista). A cidade velha é a metáfora de tudo isto: todos os símbolos de todos os problemas juntos - e todas as soluções também.
The stalker gets stalked :-)
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