Os antropólogos, e não só, têm a mania de encontrar imagens, metáforas, que denotem bem a natureza das realidades que estudam e facilitem a tradução da complexidade do social. No caso de identidades complexas, ambíguas, contraditórias, ou até complementares, muitas são as imagens disponíveis: do clássico melting pot estado-unidense à feijoada brasileira, passando pelo calulu caribenho ou pela salad bowl canadiana. Noutros casos, menos multiculti, pode-se falar em camadas de bolo, em fatias de pizza, em smorgasbord, em tanta coisa... Já dei por mim a pensar qual seria a imagem apropriada para descrever a configuração portuguesa, bem bizarra, porque mistura uma ideia de não-racismo com uma consciência de que isso é um mito e a situação das comunidades imigrantes em Portugal. Nenhuma imagem de mistura (salada russa? caldeirada?) seria correta, porque seria enganadora; e imagens de separação hierárquica - bolo de noiva? - também não seriam as mais acertadas. Por outro lado, esta coisa das imagens parece seguir sempre motivos gastronómicos - que denotam comensalidade, partilha - o que não me parece adequado para certos contextos ou para transmitir certas ideias. Aqui, onde estou agora, vão-me ocorrendo várias imagenss, mas todas elas me parecem ou piedosas, ou tolas, ouingénuas, ou cruéis, ou separadoras de mais ou demagogicamente multiculti.
De repente dei por mim a sair da caixa simbólica da comida, e também a sair da caixa conceptual do (multi)culti. Pensar mais na unidade na adversidade do que na unidade na diversidade. Ocorreu-me primeiro a expressão inglesa "folds". Dobras, ou pregas. Não sei porquê. Imediatamente pensei em lençóis, mais ainda do que em tecidos (a imagem da tecitura também é muito usada na ciência social e parece-me errónea, demasiado estruturante e coesa). Um lençol é um pedaço de pano, único. Um lençol puxa-se para um lado ou para o outro, tapando e destapando. Um lençol suja-se e lava-se e gasta-se. Um lençol faz dobras e pregas, como se os sentidos se invertessem, se redobrassem sobre si próprios, se desafiassem, não sem que possam tornar a alisar-se (mas sempre com um resto visível da prega). Lençóis, dobras, pregas - é o que me ocorre e ainda não percebi bem porquê, mas parece-me promissor ;)
(Adenda: esqueci uma palavra - vinco(s))
De repente dei por mim a sair da caixa simbólica da comida, e também a sair da caixa conceptual do (multi)culti. Pensar mais na unidade na adversidade do que na unidade na diversidade. Ocorreu-me primeiro a expressão inglesa "folds". Dobras, ou pregas. Não sei porquê. Imediatamente pensei em lençóis, mais ainda do que em tecidos (a imagem da tecitura também é muito usada na ciência social e parece-me errónea, demasiado estruturante e coesa). Um lençol é um pedaço de pano, único. Um lençol puxa-se para um lado ou para o outro, tapando e destapando. Um lençol suja-se e lava-se e gasta-se. Um lençol faz dobras e pregas, como se os sentidos se invertessem, se redobrassem sobre si próprios, se desafiassem, não sem que possam tornar a alisar-se (mas sempre com um resto visível da prega). Lençóis, dobras, pregas - é o que me ocorre e ainda não percebi bem porquê, mas parece-me promissor ;)
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